terça-feira, 24 de julho de 2007

Dedos do silêncio

Vem... Me toma à beira da noite, caminha por mim com seus passos molhados, despeja seu rio no meu cálice – pois minha emoção é só água. Vem... Que eu lhe dou um trago deste meu vinho guardado, destas minhas uvas frescas de inverno... Que eu derramo em gotas meu perfume pelos quatro cantos do seu corpo, vestindo sua pele com a camurça da nudez e do silêncio. Vem... Deita e me canta, sente meu desejo se esgueirando pelos seus dedos, veleja sem bússola pelos meus sentidos, me olha como quem pede lua... Deixa eu sussurrar minhas folhas, soprar minhas pétalas pelo seu peito de relva, pelo seu solo macio. Vem... Não volta, esquece a hora morta do cotidiano de sempre. Me toca feito música e deixa eu cantar meu bolero pelas suas curvas de carne... Sinto-me inocência passeando por suas alturas, por seus andares cheios da mais noturna noite densa. Desvenda essa face molhada e me mostra a sua vertente original de emoção-fêmea pura... Que eu o espero na branca paz do meu ventre adormecido, dos meus braços plenos de fogueiras e cantigas. Vem... Que eu desfolho toda essa sua vontade nua, que eu desperto todo esse seu lado cigano... pois o meu leite é morno e é rosa franca meu sorriso. Deixa seu barco navegar pelo meu leito, que eu carrego no peito a ânsia de hastear a bandeira do infinito... Vem... Deita... Me namora... Me afoga no espelho de luz dessa madrugada afora, me diz que no nosso tempo não há tempo nem hora, que eu não agüento a flor do sexo que arde nas entranhas de mim... Deixa que eu amanheça na espuma dessa sua onda quente, deixa sua emoção fluir da garganta num repente... Que eu carrego nos olhos de relento a voz que lhe pede a terra e que lhe entrega o mar.

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